23.6.07

City of Delusion

Sou carioca. Nasci e cresci no Rio de Janeiro, a origem da minha família é do interior do estado, dos dois lados. Muito carioca. Por isso mesmo sempre me incomodou a imagem padrão do que um carioca deve ser: praiano, esportista, bronzeado. Eu nunca fui nada disso.

Aí um belo dia eu conheci São Paulo.

De abril de 2000 até fevereiro de 2002 eu viajei até São Paulo praticamente toda semana. Às vezes pra passar o fim de semana, outras pra ficar um mês inteiro. Ok, eu tinha um namorado por lá. Mas hoje, tanto tempo depois, vejo que talvez eu estivesse mesmo apaixonada pela cidade.

Lembro que toda vez (toda vez) que chegava na cidade, sempre de ônibus, me enchia de uma sensação de potência. Era como se ali eu pudesse ser eu mesma, ou quem eu sempre quis ser. Em São Paulo a vida não tinha limite. E não era porque eu sempre estava ali a passeio.

Esta sensação era tão forte que, aos 21 anos, me meti num processo seletivo de transferência de universidade. Fuvest, prova discursiva. Eu realmente considerei morar sozinha no alojamento da USP. A cidade me fazia sentir capaz. Quase fui, quase assinei os papéis.

Quase. Mas tive que ficar.

Eu não sou cria da Zona Sul. Morei em lugares bem diferentes da cidade. Infância suburbana, Av. Brasil, linha do trem. No subúrbio o Rio não tem o horizonte, o verde, o mar que todo mundo ama. E ainda assim é Rio.

Morei (e moro) em Copacabana. Na Tijuca. Até em Niterói eu fui parar. Esta diversidade me deu uma visão mais global do Rio, menos restrita ao mundinho da Zona Sul. Porque é um mundinho. É pequeno. É elitista. A gente sempre ouve que no Rio as pessoas se misturam, que a favela está muito próxima do luxo e que todo mundo convive. Pra mim isso é mentira. As pessoas simplesmente reagem umas às outras.

Sempre me incomodou a richa ridícula de cariocas vs. paulistas. Os cariocas reclamam que São Paulo é feio, poluído, o trânsito é caótico, tudo é longe, não tem praia. Bem, o Rio é lindo sim. Infelizmente uma cidade precisa ser mais do que bonita pra me fazer sentir bem e querer viver nela. Precisa me oferecer mais.

O Rio é poluído também. A baía fede, a Lagoa fede, as favelas não deixam a paisagem mais bonita. É triste. O trânsito não é muito diferente, desafio que alguém consiga sair de Ipanema às seis da tarde e chegar no Centro às seis e meia. De fato as distâncias são menores, mas só se você vive na Zona Sul e SÓ nela. Quem mora em Guadalupe e trabalha no Centro não deve concordar muito com a idéia de que no Rio tudo é perto.

A realidade é que o dinheiro do país está em São Paulo. Lá existem melhores oportunidades pra todo mundo. Por isso o Rio perdeu tanta gente pra lá. Só eu tenho 4 amigos que se mudaram pra SP por perspectivas melhores. Dois cunhados. Conheço uma penca de gente que fez o mesmo. E em breve terei uma irmã, um pai e uma sobrinha morando lá também. Minha família.

Ainda assim eu não vejo este êxodo com pesar.

Porque São Paulo é acolhedora. Ela sempre me fez sentir em casa. Seus prédios de milhares de andares inspiram futuro, potência, caminhos. O Rio é lindo e será amado por mim pra sempre, claro. Mas nunca será tudo que São Paulo pode ser.

São Paulo é potente e faz as pessoas se sentirem assim.

17.6.07

Choose life. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television.

Choose washing machines, cars, compact disc players and electric tin openers. Choose good health, low cholesterol and dental insurance.

Choose your friends.

11.6.07

I´m Killing Time On Valentine´s

Foi-se o tempo em que o dia dos namorados era apenas uma data bacana pra mim.

Este é também o dia mais tenso da indústria da lingerie, da qual faço parte. Atualmente, a pressão para a entrega de centenas de calcinhas e sutiãs até o dia 12 tirou muito da beleza e do clima ameno de pretexto pra ganhar/dar presente e sair pra jantar num lugar legal durante a semana.

Mas tudo bem porque amanhã eu vou estar ocupada começando um curso cujo público alvo são profissionais que lidam com gestão comercial. Oi?

Apenas nestes momentos em que eu leio algo bizarro assim é que me dou conta do quão estranho têm sido os últimos dois anos. Que diabos eu fiz pra vir parar aqui? Onde diabos eu me meti pra ser público alvo de um curso de gestão comercial?

Não que seja ruim. É simplesmente estranho. E corrido, e estressante. E cheio de pressão por todos os lados. Não dá pra fazer só uma coisa direitinho, tem que ser sensacional em tudo. Criativa, organizada, educada mas às vezes grossa, flexível, ágil, sagaz, obediente aos fluxos, bem informada, informatizada, etc. Pro-ativa. Quem inventou esta palavra merece ser atropelado por uma Scania desgovernada. Comigo no volante.

Óbvio que metade disso fica pelo caminho. O dia de 9 horas (às vezes 10) é pouco. Tudo depende da situação. Em segundos você pode ser a heroína ou uma completa imbecil. Há dias em que eu queria apenas ter uma vidinha mais ou menos, tranqüila, sem montanha-russa diária.

Há vários dias assim.

9.6.07

Teatro dos Vampiros

Fiz faxina por aqui. Aquela bagunça com os acentos me incomodava. Do mesmo jeito que as toalhas que não combinam no banheiro me irritam. Que os furos feitos em vão na parede vermelha. Que a jardineira sem plantas de qualquer tipo, nem as de plástico. Que a poeira sobre a mesinha design conscious. Que a luz da sala que ainda não funciona.

Paredes são incríveis. Eu amo muito as minhas, hoje já coloridas mas ainda pouco adornadas. As fotos dos Beatles ainda estão encostadas em cima da mesa. Mas pelo menos já existe a mesa. Engraçado como a gente sonha a juventude inteira com uma casa só sua e quando consegue realizar só pensa em onde vai pendurar a foto da banda ou o poster do filme preferido. Nada mais juvenil.

Nada me impede de me assombrar com o fato de que todos estes meus ícones juvenis serão coisa de coroa daqui a 15 anos. Foda-se também. Seremos coroas mais legais que os anteriores. Vamos ouvir rock´n´roll, usar Converse e ter quadrinhos de Star Wars na entrada de casa.

Outra coisa muito desagradável (não tanto quanto a falta de luz na sala) foi perceber que nem juntando os pertences culturais conseguimos lotar uma estante. Uma prateleira para livros e outra para cds. Por outro lado temos roupas que não acabam mais. E toneladas de tênis e sapatos. Ou seja: cultura é o caralho, somos fúteis e só gastamos dinheiro com a aparência.

Este é um problema que eu tratei de resolver: encomendei um livro na Argumento (tenho que prestigiar o comércio local). Mas eu acho que Stephen King não vale muito como cultura. Bem, foda-se de novo, sou pop e cafona (cantarolar música oitentista do Paul McCartney o dia inteiro só faz provar), quero enganar quem?

Mas 2007 tem sido muito produtivo. Desde janeiro eu me ocupo em deixar a casa com uma cara interessante com os meus projetos de decoração low budget. Tirei férias do trabalho. Aprendi a fazer algumas comidas. Dei entrada no pedido de diploma. Perdi alguns quilos. Ganhei um prêmio de publicidade com o Daniell. Ok, eu não sou publicitária. Mas até aí, eu também não sou estilista. E vejam no que deu.