12.9.07

Modern-Attached

Aí ontem eu fui lá no evento do Senac Rio Moda que até outro dia se chamava Seminário de Tendências e agora virou Moda+Visão. Desta vez o foco foi o Inverno 2008.

O conteúdo, no entanto, continua o mesmo: estilistas de marcas bacanas levam suas impressões sobre as tendências do mercado de moda, em vários segmentos, para a estação em questão.

As palestras se estruturam de forma parecida: cada profissional faz sua pesquisa em sites e revistas gringos e monta um apanhado de imagens que traduzam o que foi mais visto como tendência. A pesquisa no segmento de lingerie foi feita pela equipe de estilo da qual faço parte. E nós, claro, utilizamos os mesmos recursos que todos os outros.

Se alguém achar de fato interessante, posso resumir o que eu vi por lá:

- Capas de chuva Burberry invadindo o mundo, podendo ser vistas até como vestidos;
- Cintura marcada, fazendo referência ao universo Dior clássico;
- Muito tricot com texturas;
- Xadrez, estampas em preto e branco e cinza;
- Mistura de texturas e tecidos;
- Calça com perna skinny e quadril largo: culotes;
- Matelassê;
- Jeans com aparência metalizada;
- Vestidos e não saias;
- Meias coloridas;
- Calça de cintura alta, mas as de cintura baixa convivendo;
- Macacão e jardineira;
- Jeans com lavagem escura (raw jeans);
- Óculos Ray Ban Celebrity, daquele que o Nix sempre usou;
- Cores fortes e primárias como rosa choque, laranja e azulão, sempre com muito preto acompanhando;
- Ao mesmo tempo muito cinza (quase prata) e tons de gelo;
- Influência 80´s continua. Tão forte que a tendência para as estampas das camisetas é a Ocean Pacific.

Agora posso gongar tudo isso que descrevi acima. Simplesmente por se tratar de blablabla e mimimi. É por isso que o mundinho da moda brasileira é TÃO cansativo e previsível.

Todo mundo bebe da mesma fonte. O que os gringos fazem, a gente vai lá e acha o máximo. Japoneses incluídos quando eu digo gringos. É aquele pensamento cafona de brasileiro que considera tudo que vem de fora o máximo.

Eles têm acesso a matérias primas incríveis que a gente nem sonha ter por aqui? Sim, verdade. Mais uma razão pra que a gente tente buscar o que há de mais original e de qualidade por aqui, pra ficar com menos cara de "primo pobre".

O auditório cheio de gente anotando tudo que o povo dizia que ia "pegar" no inverno que vem. Porque o evento não é de moda, é de comércio. Nada contra moda comercial, pelo contrário, todos somos consumidores. O que irrita é ver o blablabla e o mimimi disfarçado de tendência de comportamento quando na verdade todas aquelas imagens tratam apenas de uma coisa: lançar um novo objeto de desejo pra que você não possa viver sem a sua calça Wide Leg na próxima estação, isso logo depois de ter comprado a sua skinny. (calça Wide Leg, a saber, na época de mamãe chamava-se Boca de Sino).

Moda é mercado. Se os estilistas não lançarem nada de muito diferente da coleção anterior as marcas simplesmente não vão vender e aí o dinheiro não circula e aí fodeu. Tudo bem a busca pela novidade, todo mundo quer ver (e ter) roupa nova e bonita. O chato é a obsolescência disso tudo. A pasteurização. O último grito. A pretensão.

Aí, o momento mais bacana do evento foi já no final, quando a estilista Katia Barros, da Farm, foi lá dizer que pesquisar em sites e revistas de moda é legal sim, mas que cada marca deveria primeiro pensar no que quer fazer, no que julga ser bonito e simplesmente ir lá e fazer. Esquecer um pouco do que a Prada fez (porque se a Prada fez é lei) e pensar no seu cliente, no seu clima, no seu universo. Aí a coisa fica mais lúdica e algum suspiro de criatividade pode vir à tona.

O que é mais engraçado é que isso foi dito pela estilista de uma marca super comercial, que vende horrores pra gente de todas as idades no Brasil inteiro. Isso tudo sem perder a identidade (e a cara) de carioca, brasileira, zona sul, colorida e estampada. Eu considero a Farm um fenômeno. Não só de vendas (porque disso todo mundo sabe) mas de criatividade aliada à preço. Porque ser super inovador e ousado e ter peças conceito custando 2 mil reais, como a Osklen, não é vantagem. Eles mandam bem? Mandam. Mas que são a Prada wannabe dos trópicos, são.

Pena que a moda perdeu a nuance de expressão, atitude e comportamento e ficou apenas com o lado mercadológico, de setor que movimenta altas granas.

Enfim, impressões. E talvez um cadinho de mau humor.